O que é uma Parábola?



O que é uma Parábola? 


PARÁBOLA - Uma comparação, um paralelo: Uma narração curta para ensinar uma verdade moral ou espiritual. A fábula é uma narração em que seres irracionais, e mesmo objetos inanimados, são apresentados como falando com paixões e sentimentos humanos, para ensinar lições espirituais. A parábola relata o que realmente aconteceu, ao passo que a fábula narra o que é imaginário.

A parábola ensina verdades celestiais; a fábula, ideias terrestres. “Foram certa vez as árvores a ungir
para si um rei, e disseram a oliveira. . . " é uma fábula. A alegoria é uma narração simbólica em que todos os detalhes têm significação. “O Peregrino” é uma alegoria. O símile é uma comparação de coisas semelhantes. A metáfora é uma figura de retórica pela qual se transporta a significação própria de um vocábulo para outra significação. O símile e a metáfora são breves ao passo que a parábola é mais extensa. “São lobos roubadores” é uma metáfora. “Como ovelhas para o meio de lobos” é um
símile. “O reino dos céus é semelhante a uma rede que, lançada ao mar, recolhe peixes de toda espécie . . . ” é uma parábola.




PARÁBOLAS DE JESUS


Significado do termo. A palavra parábola deriva do grego parabole que, etimologicamente, significa “colocar as coisas lado a lado”, geralmente com a finalidade de fazer uma comparação. Como na Septuaginta (LXX) a palavra parabole foi usada como tradução da palavra hebraica mashal, seus diversos significados ficaram anexados ao termo parabole. Portanto, no NT as expressões figuradas, comparações e metáforas são todas chamadas de parábolas. A parábola propriamente dita, isto é, uma história simples e curta de onde se origina algum detalhe de ensino, é um exemplo ampliado de uma compararão ou metáfora. A. M. Hunter sugere a seguinte definição: a parábola é uma “comparação
extraída da natureza ou da vida quotidiana, destinada a esclarecer alguma verdade espiritual com a suposição de que o que é válido em uma determinada esfera também será válido em outra” (Interpreting the Parables, p. 8).

O Senhor Jesus, naturalmente, não inventou a parábola. Elas são encontradas no AT (cf., por exemplo, 2 Samuel 12.1-14; Isaías 5.1-7) e nos escritos rabínicos. Uma cuidadosa comparação entre o uso das parábolas no AT e os escritos dos rabinos, com o uso feito pelo Senhor Jesus, revela inúmeras e surpreendentes semelhanças. As diferenças, entretanto, são ainda mais notáveis. Os rabinos usavam a parábola para esclarecer uma verdade já conhecida das Escrituras. O Senhor Jesus usava a parábola para proclamar o reino de Deus, que veio em sua própria pessoa e ministério. A originalidade, o vigor e o talento de suas parábolas não encontram paralelo nem no AT nem nos escritos dos rabinos.



Classificação das parábolas.


Aproximadamente um terço dos ensinos do Senhor Jesus foram modelados sob a forma de parábolas.
Esse é um fato particularmente notável, porque Ele é a única pessoa do NT que faz uso delas. Não existem parábolas nas epístolas do NT, embora naturalmente muitas metáforas e comparações estejam presentes.

O número total de parábolas dos Evangelhos difere de acordo com a definição de cada um, mas um número aproximado pode ser 50 ou 60 parábolas. O Evangelho de Lucas é o mais rico nessa forma de ensino do Senhor Jesus: ele tem cerca de 24 parábolas, das quais 15 ocorrem apenas nesse evangelho. Mateus tem 20, das quais 11 lhe são peculiares; Marcos tem 8, sendo que 2 ocorrem apenas em seu evangelho. Embora o termo parabole não esteja presente no evangelho de João em seu idioma original, Jesus usa muitos exemplos e alegorias sobre sua pessoa; por exemplo, o Bom Pastor, a Vinha, o Pão do Céu etc. A gama de assuntos tratados nas parábolas é relativamente reduzido. Jeremias classifica

as parábolas em oito grupos básicos, enquanto Hunter os reduz para quatro; a vinda do reino, a graça do reino, os homens do reino e a crise do reino. É provável que esta seja uma simplificação exagerada; no entanto, ela enfoca o aspecto de que elas estão indissoluvelmente ligadas à pessoa e à obra do Senhor Jesus Cristo. Veja Parábolas de Jesus.



Propósito das parábolas


O propósito óbvio do uso das parábolas pelo Senhor Jesus era tornar a verdade espiritual mais clara e obrigatória. Partindo ao pressuposto que “todo mundo ama uma história”, o Senhor contou histórias fascinantes extraídas da natureza (por exemplo a do semeador, Mateus 13.323; e a da semente de mostarda, Mateus 13.31,32) e das vicissitudes da vida (por exemplo, a da dracma perdida, Lucas 15.810; a das virgens prudentes e das loucas, Mateus 25.1-13) para levar à mente de seus ouvintes a verdade espiritual através de ilustrações que lhes fossem familiares. Entretanto, Marcos 4.11,12 parece sugerir que Jesus falava sob a forma de parábolas a fim de obscurecer a verdade; “A vós vos é

dado saber os mistérios do Reino de Deus, mas, aos que estão de fora, todas essas coisas se dizem por parábolas, para que, vendo, vejam e não percebam; e, ouvindo, ouçam e não entendam, para que se não convertam, e lhes sejam perdoados os pecados”. Muitas soluções foram oferecidas para essa crux interpretum (dificuldade de interpretação).

Os antigos intérpretes viam nessa passagem um exercício da divina soberania que arbitrariamente escolhe a quem quer, e que endurece a quem quer. Outros, rejeitando essa ideia como indigna dos ensinos de Jesus, desconsideraram essa expressão como sendo parte de seu ensino, atribuindo-a ao desenvolvimento da teologia da Igreja primitiva. No entanto, como existem boas evidências de que essa expressão é autêntica (ela está de acordo com o Targum e contém vários termos do aramaico), foram sugeridas outras possibilidades. A mais atraente foi considerar a cláusula do propósito {hína) como a cláusula resultante (hotí, cf. Mt 13,13), e entender essa passagem como a descrição do efeito de endurecimento que os ensinos de Jesus exercem sobre aqueles que os rejeitam. 

As parábolas de Jesus não são histórias bonitas com uma simples instrução moral no final. Elas convocam os homens a tomar uma decisão. Essa decisão está relacionada não só com a verdade da parábola, mas com a Pessoa que ensina através dela. Se o ouvinte se recusar a responder, seu coração ficará ainda mais endurecido. Esse processo está descrito em Marcos 4.11,12, uma passagem que ao invés de ser descrita conforme a finalidade das parábolas deveria ser chamada de “o resultado de deixar de responder aos ensinos das parábolas de Jesus”.



Interpretação das parábolas.


Nenhum outro segmento dos ensinos de Jesus sofreu tanto nas mãos dos intérpretes como as parábolas. Orígenes interpreta a parábola do bom samaritano da seguinte maneira: “O homem que caiu entre os ladrões é Adão. Como Jerusalém representa o céu, assim também Jericó, para onde se dirigia o viajante, representa o mundo. Os ladrões são os inimigos dos homens, o Diabo e seus serviçais. O sacerdote representa a lei, e os levitas representam os profetas. O bom samaritano é o próprio Cristo. O animal sobre o qual o homem ferido foi colocado ó o corpo de Cristo que carrega o Adão caído. A hospedaria é a Igreja; as duas moedas, o Pai e o Filho; e a promessa do samaritano de

voltar outra vez é o segundo advento de Cristo”. Exemplos semelhantes desse espantoso tipo de interpretação podem ser encontrados nos escritos de Tertuliano, Agostinho e outros. Inevitavelmente, instalou-se uma reaçâo, liderada pelos patriarcas de Antioquia (principalmente Teodoro de Mopsuestia e João Crisóstomo), mas apesar de seus esforços, o método de alegorias geralmente prevaleceu. Durante a Reforma foram feitos significativos progressos nos estudos bíblicos, que refletiram no entendimento e na interpretação das parábolas. Assim, as alegorias foram, de forma geral, rejeitadas.

Se Lutero e Calvino erraram em sua interpretação das parábolas, isso se deve apenas à s\ia ansiedade de encontrar “A Doutrina da Reforma” em todas as partes das Escrituras, inclusive nas parábolas de Jesus. O próximo grande passo para o entendimento das parábolas foi dado por Adolph Julicher com a publicação de sua obra de dois volumes, atualmente famosa, Die Gleichnisreden Jesu, em 1888 e 1889. Jiilicher desferiu o golpe mortal sobre o método das alegorias das parábolas. Ele insistiu que cada parábola tinha somente uma única verdade a ser ensinada e que todos os outros detalhes eram apenas mera decoração. Ele realizou um importante trabalho. Eliminou a interpretação subjetiva e alegórica que há muito tempo vinha impedindo uma adequada compreensão de seu significado. Entretanto, ele cometeu dois erros: (1) Levou muito adiante sua teoria de “uma única verdade”. Muitas parábolas têm, evidentemente, elementos alegóricos em si. (2) Ele estava enganado em sua

assertiva de que elas ensinam apenas uma verdade moral - quanto mais geral melhor. A correção de Julicher veio com a publicação da obra de C. H. Dodd, "The Parables of the Kingdom”, em 1935, cuja grande contribuição foi colocar as parábolas no cenário correto da vida, isto é, no grande ato escatoiogico [ou redentor - Ed.] de Deus, realizado através da pessoa, ministério e ensinos do Senhor Jesus Cristo. Nele o reino de Deus havia chegado, e as parábolas devem ser entendidas dentro do contexto desse reino agora realizado.

Estudos mais recentes (por exemplo, Jeremias em “The Parables of Jesus”, 1954) afirmam que as parábolas, na forma como são encontradas nos Evangelhos, sofreram uma radical transformação. Seu cenário original, como na época de Jesus, não existe mais. Estudando a maneira pela qual aconteceu a transformação de uma parábola, do cenário da vida de Jesus, para o da Igreja primitiva, podemos reconstruir esse cenário original. Essa abordagem é extremamente subjetiva e seus resultados são meras conjecturas, embora seja indubitavelmente verdade que em alguns exemplos as circunstâncias

históricas precisas das parábolas tenham se perdido. Na verdade, a missão redentora de Cristo, isto é, “a presença do reino de Deus na pessoa, ministério e ensinos de Jesus” (cf. George E Ladd, “The Life Setting of the Parables of the Kingdom”, JBR, XXXI [1963], 197) nos fornece a situação geral da realidade de todas as parábolas de Jesus. É nesses termos que elas devem ser entendidas, e não em termos de uma verdade moral e religiosa de caráter geral.



FONTE: Dicionario Bíblico Wycliffe